Luxumei
p/ camila
que meu enfeite natural
são as flores
embora eu vá me vestir
de um modo incrível
com plumas
garfos facas colheres
e punhados de pelos
e lãs de Taiwan e Luxumei.
Cada vez que espirro
por entre os piercings
encho o céu com faíscas
faço acrobacias
e piruetas endemoniadas
toda noite
me sai um tronco adjacente.
Sou de quatro patas,
preferencialmente,
os galhos
vão me sair pela pele
estou fadada a ser
um anjo com a pélvis
em chamas.
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resido no dizer,
000000000000amanheço no estar,
000000000000000000000000000 palíndrome no tempo
000000000000000000 alquimia000 do000 nome
00000000000000000000000 o000000000instan
0000000000000000000000000000000A alma é co-autora do instante.
000000000000000000000000000000000000000000000 Humberto Giannini
O continuum do tempo é cortar.
Tem
0000p
000000oral.
A língua nos ouve, o silêncio é seu mar.
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Selenita
A noite
é um deslize
da manhã
000000000000Um tormento
000000000000para a lua
que sendo
de natureza
apagada
se vê obrigada
a brilhar.
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O tropeço da doutrina
Meu amor por ti,
com o que se parece?
Com a compaixão?,
a comoção?,
o feitiço?, a maternidade?,
ou o controle?
Te ver pelas ruas
me acelera a respiração,
és a encarnação
de minhas ideias
nasceste de minha cabeça
tu és meu desvario
que anda solto
e veste calças
na avenida
Pedro de Valdivia.
És um conceito feito carne
tua mãe apenas pensa
ser tua mãe
não és nada além da graça
pura da espiritualidade
a forma frágil e descabelada
de uma beleza interior
feita exterior
por um tropeço da doutrina
ou um equívoco de Deus.
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Histórias de astros
1 - No princípio as ilhas eram de todas as cores.
Algumas eram violetas, e tudo ali era da mesma cor,
as árvores, as rochas, a areia.
A policromia não era assunto do dia.
Quando as canoas se afastavam, viam-se várias cores.
De outro modo, apenas uma.
Era tão bonito chegar a uma paragem celeste ou lilás
azul cobalto ou cadmio.
2 - Depois houve um continente cheio de colinas.
Seus habitantes felizes amavam o pôr do sol.
As ávores cresciam no hemisfério e não faltava paisagem
a ninguém. Tudo era curvo, e as demais formas não existiam;
não se conhecia a linha reta, nem para caminhar.
A vista dobrada e o corpo e o cabelo cresciam de forma
ondulada. Amavam em ritmo circular e pensavam em elipse.
Em uma das curvas, o continente cruzou a linha
do real e passou a outra dimensão.
Não é que tenha sucumbido em algum cataclismo, simplesmente
ultrapassou os limites e desapareceu para os nossos olhos.
3 - Aumentam os anciões.
Por fim o universo ficará enrugado.
4 - Há estrelas nas quais os seres não falam.
Apenas olham. Não são gregários. Vivem sós e se
multiplicam durante os passeios noturnos.
Vivem para o gozo e a quietude. Ao mais leve sofrimento,
caem fulminados. É a sua vontade, consideram que é alheio
à vida.
5 - Os germens das estrelas não podem ser evitados.
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O amante do dia?
o diamante
*
o que se guarda nos desvãos dos rios?
os desvarios
*
a paixão do companheiro?
a compaixão
*
o que é a mãe?
amanhecer
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Mastaba
Achei que entrava
sob uma cascata
num bosque
enquanto metias tua mão
em minhas nádegas.
Pensei que voava
apeando do cavalo
tua mão em meu sexo
me impulsionava
feito um pássaro úmido.
Flutuei gozosamente
na ocasião
me molhei até os joelhos
e duas lágrimas
rolaram negras
em minhas bochechas.
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Anatomia do papel
O curioso é que a folha
parou sozinha
Não tinha o ferrinho
ereto por trás
Isto me surpreendeu
do mesmo modo
que o teu sexo
que não tem osso
e é mais duro
que um joelho
que tem vários ossos
cinco ou seis eu acho.
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A mulher de C.
Curioso é que "Judy"
é nome para morcego
e não para esta donzela
que aparece nua
sem o menor estrago
e é tão alta
que as pessoas
não consideram-na
uma delas
e é tão prolixa
que amedronta
as nuvens
e quando se move
todos olham
pra ver se vai
de patins
e quando se senta
se cerca de auréolas
as cadeiras cantam
e o chão
em geral
estremece.
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Estes são alguns poemas de Cecilia Vicuña (1947) - que, com os exageros indevidos que só servem mesmo para chamar atenção e pedras, considero a autora mais importante da poesia latino-americana contemporânea. É também artista visual, cineasta e performer. Exilada em Nova York desde 1980, parece não ser muito lida no Chile ou em qualquer outro país da região, embora tenha publicado livros fundamentais como SABORAMÍ, Palabrarmas, Luxumei o el traspié de la doctrina e I tú (todos disponíveis no site Memoria Chilena). Vídeos, há muitos em seu canal no Youtube. No Brasil, só tenho notícias de uma publicação, o "Livro deserto", traduzido por Ricardo Corona e publicado junto com o número 3 da revista Bólide. Sua obra cresce a partir de etnopoesia, intervenções urbanas, colagem, instalações, adivinhações, o espanhol, o inglês, o quéchua e um longo etc. Esta seleção de traduções que fiz não obedece a nenhum critério específico porque o prazer da leitura não tem critérios - ou, se os tem, eles não são específicos.
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Cecilia Vicuña: An animal respose to poetry.